Momento muito feliz em que pude presenciar a expressão viva de sabedoria e amor dedicada ao Ser Humano.
O Professor Dr. Michael Lee Penn, dedicado a comunicar sobre a natureza humana.
Segue abaixo uma palestra proferida no Brasil e de grande valor para entendermos o eu, a identidade e as relações humanas da atualidade.Vale conferir!!!
UNIVERSIDADE
TIRADENTES - UNIT
AULA
INAUGURAL DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Palestra
do Prof. Doutor Michael Lee Penn
(Tradução:
Professor Dr. Feizi Milani)
Em,
10/08/2012
É um prazer enorme estar
novamente no Brasil. Peço desculpas por não ser capaz de falar no seu próprio e
belo idioma. Com a sua permissão eu vou falar brevemente depois então podemos
debater.
Uma das questões mais
importantes com as quais a humanidade se defronta é como é que podemos alcançar
a prosperidade da humanidade. Eu não estou me referindo à prosperidade dos
norte americanos, ou dos chineses, ou dos brasileiros, mas sim, a prosperidade
da humanidade como todo, como uma única família. Esta é uma pergunta que tem
estado com a humanidade por pelo menos 3.000 anos.
Vocês estão aqui porque
vocês acreditam que a base da prosperidade é o conhecimento. Vocês estão aqui
porque vocês acreditam que a mente é a fonte da qual toda a civilização humana
nasce. Então vocês estão aqui na expectativa e esperança de desenvolverem a sua
mente e que vocês possam usar a sua mente para o serviço à humanidade. Essa é a
motivação que traz vocês a Universidade. E se você é sincero nesse desejo,
nessa aspiração, você pode ter certeza absoluta que você receberá a ajuda,
assistência, em alcançar esse objetivo.
Eu gostaria de falar
brevemente sobre a busca do conhecimento e o tema da paz. Eu estou falando
sobre a paz no interior do coração da pessoa, a paz no ambiente familiar, a paz
dentro da comunidade e a paz mundial. Esse é um dos temas que vai animar as
nossas discussões durante este fim de semana.
Eu acredito que o primeiro
passo é compreendermos a questão do valor humano e aplicar esse conhecimento
nas nossas vidas individuais e coletivas. Então, existem dois tipos de valores.
Um é o valor socialmente construído. Um grupo de pessoas se reúne e confere a
uma certa entidade um valor simbólico. Por exemplo, se eu tenho dinheiro (R$
50,00), o valor desse dinheiro provêm do esforço de uma coletividade de definir
um determinado valor para esse pedaço de papel. Não tem nenhum valor fora
daquela comunidade que deseja que aquilo tenha esse valor. Então essas coisas,
cujo valor depende de uma construção social, de um acordo social, nós chamamos
valores extrínsecos.
Mas, existe um segundo tipo de
valor, que são os valores intrínsecos, e o valor intrínseco tem a ver com a
natureza das coisas, a forma como é feita, o que ela é capaz de fazer, quais
são as potencialidades. O único motivo pelo qual nós temos valores extrínsecos
é para que possamos cultivar valores intrínsecos. Então, quando nós fazemos
escolhas de valores, nós sacrificamos determinados tipos de valores em favor de
outros tipos de valores. Então, por exemplo, esses R$ 50,00 tem o valor porque
ele pode trazer para mim algo que vai me ajudar a desenvolver minhas
capacidades. Se esses R$ 50,00 não contribuem para o desenvolvimento das minhas
capacidades, então não teve nenhum benefício para mim. Então, eu posso usar
muitos valores extrínsecos sem obter um real desenvolvimento.
Então, o que é
desenvolvimento quando os seres humanos se desenvolvem? Existem três formas e somente três formas de
desenvolvimento humano. A primeira é o desenvolvimento da minha capacidade de
conhecer, e o objeto da capacidade de conhecer, é a verdade. A verdade a
respeito de mim mesmo e a verdade a respeito do mundo. Toda vez que eu tenho a
verdade a respeito de mim mesmo ou a respeito do mundo eu tenho conhecimento.
Então, de um lado nós temos crenças a respeito do mundo, e do outro lado temos o
conhecimento sobre o mundo. Muitas coisas, que eu acredito sobre o mundo, crenças,
são totalmente falsas ou baseadas em supertições, ou enganos, mas essas crenças
tem um profundo impacto no meu comportamento. Então, quando nós interagimos com
o mundo não é uma interação direta, mas uma interação mediada pelas nossas
crenças a respeito do mundo. As nossas crenças a respeito do mundo compõem as
lentes através das quais enxergamos o mundo.
O conhecimento consiste em
testar as minhas crenças sobre o mundo e fazê-las se conformarem com a
realidade. Por exemplo, por milhares de anos nós de fato acreditávamos que as
capacidades da mulher não eram iguais as do homem ou acreditávamos que as
pessoas de pele escura não tinham as mesmas capacidades que pessoas de pele
clara. Essas crenças tiveram impactos profundos no desenvolvimento da
civilização. São crenças falsas, mas elas modelaram a nossa consciência de uma
forma muito poderosa. Existem muitas crenças desse tipo, e essas crenças
deformaram as capacidades humanas, essas crenças têm atrasado o desenvolvimento
da comunidade humana, tem estrangulado as nossas potencialidades. Nós agora
vivemos num tempo no qual, através do uso das tecnologias, podemos descobrir
novas verdades a respeito de nós mesmos e a respeito do mundo.
Existe uma segunda coisa que
se desenvolve quando os seres humanos se desenvolvem que é a capacidade de
amar. A capacidade de amar parece uma coisa trivial. De fato parece ser uma
coisa tão trivial e natural que nós raramente damos atenção ao desenvolvimento
da nossa capacidade de amar. De onde é que essa capacidade vem? Essa capacidade
de amar vem da capacidade de perceber o valor intrínseco das coisas. Quando
percebo o valor de algo, eu tenho o desejo de trabalhar pelo seu desenvolvimento,
pela sua melhoria, porque eu vejo o que é que essa coisa pode vir a se tornar.
Então, quando eu vejo o meu próprio valor intrínseco, essa percepção do meu
valor, desperta em mim o desejo de desenvolvê-lo. Quando eu vejo o valor de
outra pessoa ou de outras pessoas eu tenho o desejo de me sacrificar em favor
do desenvolvimento dessas pessoas.
Eu tenho uma neta, o nome
dela é Fiona. Quando ela tinha treze meses de idade, ela começou a falar.
Então, tinha um monitor no quarto dela que eu ouvia também no meu e ela chamava
babá, babá! Eu disse a minha esposa, Fiona está me chamando. Eu vou ao quarto
dela e pego ela no colo e ela diz babá, babá o que significa que ela quer se
alimentar. Eu estou alimentando ela, são
duas horas da manhã, e eu estou olhando para o rosto dela e digo para ela, babá
te ama muito, Fiona! Ela empurra a mamadeira, me segura no pescoço e se
aproxima bastante de mim. E uma coisa que eu percebi é que estávamos
compartilhando algo muito profundo e outra coisa que eu percebi é que apesar de
ser duas horas da madrugada eu não estava perturbado por ter sido chamado por
ela, eu estava feliz, excitado, repleto de felicidade. Esta é a forma como o
amor funciona. Quando amamos algo, temos a disposição para sacrificar nosso
repouso, nosso conforto, nossos recursos para que aquilo possa se desenvolver.
Quando os governos amam seu
povo, eles têm a vontade de sacrificar os seus tesouros para que o povo possa
se desenvolver. Mas se o governo não vê o valor intrínseco do seu próprio povo,
ele vai reter o desenvolvimento dele, para que o homem possa andar por aí com
roupas bonitas e ter contas bancárias grandes. Mas tudo isso se inicia na
dimensão da nossa própria consciência, começa com a nossa capacidade de
perceber valor. Essa capacidade precisa enormemente ser desenvolvida.
A terceira capacidade que os
seres humanos possuem, é a capacidade de vontade, de ter vontade, a capacidade
de escolher o que é que é certo ou errado e buscar isso. É a capacidade de poder
dizer, sim, eu desejo isso, mas isso não é bom para mim. Os seres humanos são
os únicos animais que nós sabemos que podem, de fato, mudar o seu próprio
desejo. Nós podemos dizer: desejamos isso, mas isso não é digno de nós e eu
posso modificar o meu desejo, eu vou buscar outro objetivo. E isso é a causa da
criação do nosso senso interno de nobreza, nossa própria dignidade, nosso
próprio orgulho. Temos bons motivos para estarmos felizes conosco mesmos. Nós
dizemos eu tinha esse hábito terrível, mas eu o deixei de lado, porque eu me
esforcei, eu lutei por isso, para melhorar a mim mesmo e por causa disso, a
minha família agora está melhor, a minha comunidade melhorou, a minha nação
está melhor, o mundo está melhor. Então, é assim que nós vamos estar buscando a
paz no século XXI. As pessoas vão começar a reavaliar os seus valores, vão se
tornar cada vez mais consciente daquilo que realmente vale a pena ser buscado e
vão começar a buscar aquilo que realmente vale a pena de forma sincera e a
sinceridade do nosso esforço vai atrair para nós, grande assistência.
Estamos vivendo num momento
de mudança, de transição na história humana. Podemos chamá-lo uma “Idade Axial”
– um ponto de mutação. Já houve um tempo em que vivemos em uma idade assim,
anteriormente. Foi o período entre 800 e 200 AC. Naquele período da história, a
mente humana passou por uma transformação radical. Como é que aconteceu? Havia
alguns grandes pensadores no mundo naquela época. Havia Confúcio e Lao-Tsé na
China, Buda na Índia, Zoroastro na Pérsia, os Profetas de Israel na
Mesopotâmia. Esses grandes pensadores reorientaram os valores humanos e, como
resultados dessa reorientação surgiram quatro diferentes civilizações ao mesmo
tempo, surgiram novas formas de vida. Tudo aquilo que está nos fundamentos da
nossa civilização atual, foi dado naquele período da história.
Estamos vivendo um novo
período de mutação da história, quando estamos começando a compreender a
verdadeira base da identidade humana. A verdadeira base da identidade humana,
não é a raça ou a cor, não é a nacionalidade, não é o gênero, é o Espírito
Humano. E essas três capacidades, a capacidade de conhecer, a capacidade de
amar, e a capacidade de ter vontade, são o grande tesouro humano. Qualquer
povo, qualquer cultura, qualquer nação, qualquer família, que desenvolva essas
três capacidades, de uma forma consciente e intencional, vai brilhar
imensamente, nesse período da história. Pensem nas milhões de pessoas que estão
sedentas, famintas por educação, famintas por conhecimento. Quem vai levar isso
até elas? Vocês e eu! Porque nós percebemos, o que é realmente um valor.
Gostaria de receber os
comentários e perguntas de vocês. Obrigado pela sua paciência!
Respostas
às Perguntas
1. Quais
são os Zoroastros e Budas do Século XXI e como essas mudanças irão acontecer?
Eu acho que
essa é realmente uma grande pergunta. Uma das maiores conquistas do Século XXI
é a democratização da educação. Por aproximadamente vinte cinco séculos o
conhecimento era extremamente centralizado. Não apenas o conhecimento era
centralizado, mas também a capacidade de adquirir o conhecimento era restrita a
muito poucas pessoas. Hoje é possível que o conhecimento se espalhe como fogo
pelo mundo inteiro. Então, por exemplo, você sabe que a Universidade Harvard
criou um programa, através do qual você pode fazer um curso em Harvard, estando
em qualquer parte do mundo e o curso é gratuito. Por que eles fizeram isso?
Eles disseram: nós somos a maior Universidade do mundo e para merecermos essa
honra precisamos educar o mundo. Então você pode ir para o site de Harvard,
você pode digitar, por exemplo, que você quer um curso em engenharia elétrica,
e você pode fazer o curso. Mesmo que você viva em Zâmbia, pode fazer o curso.
Esse é um desenvolvimento extraordinário. Instituições como essa (UNIT) - maravilhosas,
bonitas, bem organizadas, precisa ter a capacidade de acolher os mais pobres entre
os mais pobres do Brasil. Dessas crianças vão surgir novos pensadores, novos
pensamentos, novos instrumentos para melhora do mundo.
2. Professor, foi um prazer enorme ouvir sua
fala. Eu fico feliz em ver que o programa de estudos para a Paz está
acontecendo na UNIT. Eu acho isso uma coisa incrível, essa iniciativa no estado
no Sergipe. Então, a minha pergunta é a seguinte: considerando o conceito de
violência estrutural do John Lauto (?), considerando que o Brasil é um dos
países onde esse conceito deveria ser estudado com mais carinho, considerando
que esse é um dos países com um nível mais elevado de justiça social do
planeta, como o senhor considera que simplesmente conhecimento - nesse país só considerado
em termos tecnocráticos, pode ajudar na emancipação do nosso cidadão e a gente trazer
paz e justiça social para o Brasil?
Acho que a sua pergunta é realmente muito
importante. É claro que existe o problema da violência interpessoal que está disseminada
no mundo inteiro. Hoje, quando eu estava jantando, havia um noticiário do
Brasil na televisão, e nesse vídeo, policiais estavam severamente espancando um
ser humano, e eles estavam tão orgulhosos de si mesmos, estavam tão orgulhosos
de sua própria capacidade de infringir tanto sofrimento ao ser humano. Esse
tipo de violência também existe dentro dos lares. Muitas e muitas mulheres em
todo o mundo e também meninas, são sujeitas a violência odiosa, em tal nível,
que praticamente toda mulher conhece alguma mulher que foi vítima desse tipo de
violência. Então, quem deveria falar contra isso? Eu proponho que sejam os
homens e os meninos do mundo. Por que deveria as mulheres estar instruindo a
nós, sobre como nós deveríamos nos comportar no contexto da família? Agora,
mesmo homens de bom coração, são sujeitos a isso, porque é algo que permeia
toda a sociedade. Se você é um menino e cresce dentro de um tipo de sociedade desenvolve esses péssimos hábitos na
forma de lidar com as meninas e as mulheres. A pornografia está piorando isso,
porque está ligando a sexualidade humana com a degradação, violência, com a
falta de humanidade, e os nossos meninos de 11, 12 e 14 anos estão adquirindo
seu conhecimento dessa forma. Então, essas são formas privadas de violência,
que também se expressam estruturalmente. Existe também o tipo de violência
estrutural sobre o qual você falou, na qual, a depender de onde você nasceu -
você poderá ter nascido na pobreza, então as suas chances são muito menores. Se
você mora nesse outro lado da rua, as suas chances de se tornar um médico são
mínimas. Eu tenho dois filhos, e eu vivia em um bairro pobre quando meus filhos
eram pequenos. Na escola, eles estavam recebendo notas máximas, todo o tempo.
Nós pensávamos que eles eram gênios. Nós nos mudamos para outro bairro, e eles
disseram: “essas crianças são retardadas mentais”. Como isso é possível? Essa é
a disparidade, a desigualdade que nós vemos no mundo. Você acha que é possível
ter paz no mundo a não ser que a gente enfrente essas questões? Se acreditarmos
nisso estaremos vivendo numa ilusão, estamos tendo alucinações, precisamos
acordar. Então, a violência estrutural é um problema muito sério. De fato, a
violência entre nações, diminuiu consideravelmente. É a violência dentro das
comunidades, dentro de estados e dentro de famílias, que estão subindo
aceleradamente.
3. ... Sobre o desafio do desenvolvimento
humano, quando observamos o amor sem a presença do valor intrínseco. Quando o nosso eu ama o outro eu, é
magnífico. Todavia, eu pergunto ao senhor: como inferir no outro a
reciprocidade desse amor, quando, muitas vezes, a realidade do outro nega essa
aceitação?
Vou responder bem brevemente a sua
questão. Se você quer fazer uma coisa muito difícil, tente ser um ser humano. É
extremamente desafiador. É fácil ser um animal, mas muito difícil, ser um ser
humano. Todas as pessoas com quem nós interagimos, nos apresentam uma questão.
Posso manifestar humanidade na presença dessa pessoa? Então, existem alguns
exercícios que nos ajudam a desenvolver a capacidade de tratar os outros com
humanidade. Isso é dizer: “eu te amo”! Existe uma Citação que diz: “Possui um
coração puro, bondoso e radiante...” Também existe uma Citação que diz: “A
cortesia é o príncipe de todas as virtudes”. Essa é a forma que nós
demonstramos amor até mesmo por aqueles não amáveis. Na medida em que a gente
exercita essas simples capacidades, nós clamamos, nós conquistamos nossa
humanidade, nos tornamos mais bonitos, mais atraentes. Não existe nada pior do
que uma pessoa descortês. Então, toda a ideia, eu penso, é de ser o tipo de
pessoa que os outros não precisam de desculpas para não nos amar. Eles são
atraídos pela nossa beleza, pela nossa bondade, nossa cortesia, nossa
compaixão. Eu acho que isso é tudo que nós podemos fazer.
4. A
minha pergunta é a seguinte: quando o senhor diz que nós podemos levar a paz às
pessoas que estão ao nosso redor, que nós podemos realizar uma mudança, ajudar
a transformar a família, o país, etc., surge uma dúvida. Como a gente falar de
paz, ou levar a paz àquelas pessoas que estão vitimizadas pela violência? A
violência do estado, a violência institucional, a violência nas suas próprias
casas. Como falar de paz para essas pessoas? Será que é igual a falar para
alguém que vive em uma condição mais favorável? Há diferença em falar de paz
para quem está sofrendo grandes violências?
Existem muitos desafios. Mas uma coisa
extraordinária a respeito do Espírito Humano é a sua capacidade de se levantar
a partir de qualquer condição. É muito reziliente. O espírito humano é muito
poderoso, e isso é especialmente verdadeiro em relação às pessoas que foram
vitimizadas. Frequentemente as pessoas que foram vitimizadas não enxergam suas
próprias extraordinárias capacidades, porque estavam dentro, na profundidade de
seu sofrimento. Mas, frequentemente são as pessoas mais extraordinárias em suas
comunidades. Frequentemente essas pessoas se tornam a causa da ressurreição de
suas comunidades. Você vê isso pelo mundo a fora. Eu já cliniquei como
psicólogo, e não faço mais porque não tenho tempo. Mas, as pessoas mais
extraordinárias que eu jamais encontrei, eram pessoas que tinham sido
vitimizadas. Minha própria esposa foi casada com um homem na Bolívia, e ela
teve que escapar para salvar sua própria vida e dos filhos, e com muita
dificuldade, conseguiu fugir. Chegou no Estados Unidos, sem nada, com quatro
dólares no bolso e duas crianças. E essa mulher é uma lâmpada brilhante, de
fortaleza, de sabedoria, de confiança, mas não foi fácil para ela conseguir.
Ela é a joia da minha família. Todo mundo olha para ela e diz: “eu gostaria de
ser como Kety”. Kety é bonita! É óbvio! Então, o que podemos fazer se não estarmos
em um estado de humildade e diante daqueles que sofreram grandemente?
5.
... Nós falamos em
desenvolvimento atrelado a competitividade. Quando o professor (o outro
palestrante) apresentou sobre a China e a Coreia ele mostrou os índices educacionais
altos e eu percebi uma relação entre isso e o desenvolvimento econômico. O
professor Michael Penn acrescenta falando de valores extrínsecos e
intrínsecos. Então, amplia a questão. Esse
desenvolvimento passa a ser não só econômico como também humano. A minha
pergunta é: o nosso desafio neste século para construção do mundo em paz é
relativizar ou questionar essa crença do desenvolvimento atrelado à
competitividade e pensar nesse desenvolvimento como desenvolvimento humano? Até
porque a realidade da China e da Coreia nos demonstra que esse desenvolvimento tem
problemas em relação a sua sustentabilidade.
Eu penso que essa deveria ser a última
pergunta, vocês não acham? (coordenador: mais uma pergunta para encerrar, pode
ser?) Acho que a sua questão é realmente muito profunda. O maior desafio para
os seres humanos agora, é o desafio de encontrar uma correta relação com o
mundo material e o mundo humano. Descobrir a correta relação com o mundo é
absolutamente necessário para o nosso avanço no desenvolvimento. Quando nós alcançamos
a industrialização, descobrimos que poderíamos ter praticamente qualquer coisa
que desejássemos. Então, começamos a adquirir mais e mais, aqueles de nós que
podíamos, e nós nos tornamos pateticamente ambiciosos. Então, a capacidade para
o contentamento escapou das nossas mãos. Então agora, precisamos redescobrir
essa capacidade. Como é que podemos ter acesso a tudo, e ao mesmo tempo escolher
de forma sábia, escolher de uma forma nobre, não nos tornarmos como porco.
Então, eu acredito que, o equilíbrio entre as dimensões material e espiritual
da vida, é o grande desafio diante de nós, e eu tenho certeza que nós vamos
conseguir. Somos grandiosos! Somos subestimados, mesmo por nós próprios. Quando
eu penso no quanto que eu consegui modificar a mim mesmo... É incrível! Eu
tenho longo caminho ainda pela frente, mas eu vejo que é possível. É possível para
todo mundo. Essa é a direção na qual estamos nos movendo. Estamos avançando na
evolução. Acredito que nós teremos um futuro muito bonito.
6. O senhor disse que o amor é gerado pelo
reconhecimento do valor do objeto amado e que entre as três características que
a família humana deve ter para progredir é este amor. Como o ser humano pode
progredir com este amor se ele desconsidera o seu semelhante por não achar
valor algum nele? Nós há todo momento, vemos mendigos na rua e não achamos
valor nenhum neles e a única atitude que temos é a exclusão... Eu não acredito nesse
amor. O amor que eu acredito é aquele que está em Coríntios... Ele fala de um
amor que é natureza, um amor que é o de Cristo.
Eu acho que você disse
coisas muito importantes. Eu não consegui captar tudo que você disse, mas você
teve vários insights significativos. A sociedade não pode se basear no meu
próprio amor pelos outros. A sociedade tem que ser fundamentada na justiça, e
as pessoas precisam ter acesso às suas necessidades para se desenvolver
Entretanto, em adição a isso, aos arranjos institucionais, se queremos que os
seres humanos se desenvolvam de forma apropriada, alguém precisa perceber o
valor das pessoas. E perceber o valor das pessoas não é difícil. É uma questão
de aprendizado. Quando uma criança nasce
no mundo, ela não sabe que o sol que está há quase 50 milhões de quilômetros de
distância tem um grande valor. A criança vai precisar aprender a respeito da
natureza da realidade. À medida que a criança aprende sobre a natureza da realidade,
se torna óbvio para ela que o sol tem um grande valor. Da mesma forma com
outros seres humanos. Em função de certa história e doutrinação, nós nem sempre
vemos o valor do outro. É por isso que nós temos as escolas. As escolas estão
nos educando na direção do conhecimento, então nós podemos ver coisas que não
víamos antes, compreendemos coisas que não compreendíamos antes. A nossa
estupidez, a nossa ignorância, é levada embora, e desenvolvemos a capacidade de
perceber valor em lugares que não imaginávamos que existisse. Por exemplo,
descobrimos que até mesmo as fezes tem um grande valor, que sem isso a vida na
terra não é possível. Como é que aprendemos isso? Através do aprendizado.
Então, eu não estou falando de uma questão sentimental, eu estou falando de
conhecimento.
Mini Currículo
Michael Lee Penn é doutor em
Psicologia e professor de Psicologia na Universidade Franklin e Marshall, nos
Estados Unidos. Ministrou cursos e conferências em mais de 30 países. Sua área
de pesquisa inclui a patogênesis da esperança e da desesperança, a
psicopatologia do adolescente, a relação entre a cultura e a psicopatologia e a
epidemiologia da violência contra a mulher. É autor de dezenas de livros e
publicações científicas.
Obs: Doutor Michael Lee Penn é professor do Curso
de Especialização oferecido pela UNIT, em Estudos da Paz, do Desenvolvimento, e
da Resolução de Conflitos, na Disciplina, O Eu, a Identidade e o Conflito.
Transcrição da Palestra
Gravada em DVD: Maria de Fátima Fontes de Faria Fernandes (Coordenadora do
Curso)