domingo, 27 de abril de 2014

Leitura sobre a Natureza Humana



Momento muito feliz em que pude presenciar a expressão viva de sabedoria e amor dedicada ao Ser Humano.
O Professor Dr. Michael Lee Penn, dedicado a comunicar sobre a natureza humana.
Segue abaixo uma palestra proferida no Brasil e de grande valor para entendermos o eu, a identidade e as relações humanas da atualidade.Vale conferir!!!

UNIVERSIDADE TIRADENTES - UNIT
AULA INAUGURAL DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Palestra do Prof. Doutor Michael Lee Penn
(Tradução: Professor Dr. Feizi Milani)
Em, 10/08/2012

É um prazer enorme estar novamente no Brasil. Peço desculpas por não ser capaz de falar no seu próprio e belo idioma. Com a sua permissão eu vou falar brevemente depois então podemos debater.
Uma das questões mais importantes com as quais a humanidade se defronta é como é que podemos alcançar a prosperidade da humanidade. Eu não estou me referindo à prosperidade dos norte americanos, ou dos chineses, ou dos brasileiros, mas sim, a prosperidade da humanidade como todo, como uma única família. Esta é uma pergunta que tem estado com a humanidade por pelo menos 3.000 anos.
Vocês estão aqui porque vocês acreditam que a base da prosperidade é o conhecimento. Vocês estão aqui porque vocês acreditam que a mente é a fonte da qual toda a civilização humana nasce. Então vocês estão aqui na expectativa e esperança de desenvolverem a sua mente e que vocês possam usar a sua mente para o serviço à humanidade. Essa é a motivação que traz vocês a Universidade. E se você é sincero nesse desejo, nessa aspiração, você pode ter certeza absoluta que você receberá a ajuda, assistência, em alcançar esse objetivo.
Eu gostaria de falar brevemente sobre a busca do conhecimento e o tema da paz. Eu estou falando sobre a paz no interior do coração da pessoa, a paz no ambiente familiar, a paz dentro da comunidade e a paz mundial. Esse é um dos temas que vai animar as nossas discussões durante este fim de semana.
Eu acredito que o primeiro passo é compreendermos a questão do valor humano e aplicar esse conhecimento nas nossas vidas individuais e coletivas. Então, existem dois tipos de valores. Um é o valor socialmente construído. Um grupo de pessoas se reúne e confere a uma certa entidade um valor simbólico. Por exemplo, se eu tenho dinheiro (R$ 50,00), o valor desse dinheiro provêm do esforço de uma coletividade de definir um determinado valor para esse pedaço de papel. Não tem nenhum valor fora daquela comunidade que deseja que aquilo tenha esse valor. Então essas coisas, cujo valor depende de uma construção social, de um acordo social, nós chamamos valores extrínsecos.
Mas, existe um segundo tipo de valor, que são os valores intrínsecos, e o valor intrínseco tem a ver com a natureza das coisas, a forma como é feita, o que ela é capaz de fazer, quais são as potencialidades. O único motivo pelo qual nós temos valores extrínsecos é para que possamos cultivar valores intrínsecos. Então, quando nós fazemos escolhas de valores, nós sacrificamos determinados tipos de valores em favor de outros tipos de valores. Então, por exemplo, esses R$ 50,00 tem o valor porque ele pode trazer para mim algo que vai me ajudar a desenvolver minhas capacidades. Se esses R$ 50,00 não contribuem para o desenvolvimento das minhas capacidades, então não teve nenhum benefício para mim. Então, eu posso usar muitos valores extrínsecos sem obter um real desenvolvimento.
Então, o que é desenvolvimento quando os seres humanos se desenvolvem?  Existem três formas e somente três formas de desenvolvimento humano. A primeira é o desenvolvimento da minha capacidade de conhecer, e o objeto da capacidade de conhecer, é a verdade. A verdade a respeito de mim mesmo e a verdade a respeito do mundo. Toda vez que eu tenho a verdade a respeito de mim mesmo ou a respeito do mundo eu tenho conhecimento. Então, de um lado nós temos crenças a respeito do mundo, e do outro lado temos o conhecimento sobre o mundo. Muitas coisas, que eu acredito sobre o mundo, crenças, são totalmente falsas ou baseadas em supertições, ou enganos, mas essas crenças tem um profundo impacto no meu comportamento. Então, quando nós interagimos com o mundo não é uma interação direta, mas uma interação mediada pelas nossas crenças a respeito do mundo. As nossas crenças a respeito do mundo compõem as lentes através das quais enxergamos o mundo.
O conhecimento consiste em testar as minhas crenças sobre o mundo e fazê-las se conformarem com a realidade. Por exemplo, por milhares de anos nós de fato acreditávamos que as capacidades da mulher não eram iguais as do homem ou acreditávamos que as pessoas de pele escura não tinham as mesmas capacidades que pessoas de pele clara. Essas crenças tiveram impactos profundos no desenvolvimento da civilização. São crenças falsas, mas elas modelaram a nossa consciência de uma forma muito poderosa. Existem muitas crenças desse tipo, e essas crenças deformaram as capacidades humanas, essas crenças têm atrasado o desenvolvimento da comunidade humana, tem estrangulado as nossas potencialidades. Nós agora vivemos num tempo no qual, através do uso das tecnologias, podemos descobrir novas verdades a respeito de nós mesmos e a respeito do mundo.
Existe uma segunda coisa que se desenvolve quando os seres humanos se desenvolvem que é a capacidade de amar. A capacidade de amar parece uma coisa trivial. De fato parece ser uma coisa tão trivial e natural que nós raramente damos atenção ao desenvolvimento da nossa capacidade de amar. De onde é que essa capacidade vem? Essa capacidade de amar vem da capacidade de perceber o valor intrínseco das coisas. Quando percebo o valor de algo, eu tenho o desejo de trabalhar pelo seu desenvolvimento, pela sua melhoria, porque eu vejo o que é que essa coisa pode vir a se tornar. Então, quando eu vejo o meu próprio valor intrínseco, essa percepção do meu valor, desperta em mim o desejo de desenvolvê-lo. Quando eu vejo o valor de outra pessoa ou de outras pessoas eu tenho o desejo de me sacrificar em favor do desenvolvimento dessas pessoas.
Eu tenho uma neta, o nome dela é Fiona. Quando ela tinha treze meses de idade, ela começou a falar. Então, tinha um monitor no quarto dela que eu ouvia também no meu e ela chamava babá, babá! Eu disse a minha esposa, Fiona está me chamando. Eu vou ao quarto dela e pego ela no colo e ela diz babá, babá o que significa que ela quer se alimentar.  Eu estou alimentando ela, são duas horas da manhã, e eu estou olhando para o rosto dela e digo para ela, babá te ama muito, Fiona! Ela empurra a mamadeira, me segura no pescoço e se aproxima bastante de mim. E uma coisa que eu percebi é que estávamos compartilhando algo muito profundo e outra coisa que eu percebi é que apesar de ser duas horas da madrugada eu não estava perturbado por ter sido chamado por ela, eu estava feliz, excitado, repleto de felicidade. Esta é a forma como o amor funciona. Quando amamos algo, temos a disposição para sacrificar nosso repouso, nosso conforto, nossos recursos para que aquilo possa se desenvolver.
Quando os governos amam seu povo, eles têm a vontade de sacrificar os seus tesouros para que o povo possa se desenvolver. Mas se o governo não vê o valor intrínseco do seu próprio povo, ele vai reter o desenvolvimento dele, para que o homem possa andar por aí com roupas bonitas e ter contas bancárias grandes. Mas tudo isso se inicia na dimensão da nossa própria consciência, começa com a nossa capacidade de perceber valor. Essa capacidade precisa enormemente ser desenvolvida.
A terceira capacidade que os seres humanos possuem, é a capacidade de vontade, de ter vontade, a capacidade de escolher o que é que é certo ou errado e buscar isso. É a capacidade de poder dizer, sim, eu desejo isso, mas isso não é bom para mim. Os seres humanos são os únicos animais que nós sabemos que podem, de fato, mudar o seu próprio desejo. Nós podemos dizer: desejamos isso, mas isso não é digno de nós e eu posso modificar o meu desejo, eu vou buscar outro objetivo. E isso é a causa da criação do nosso senso interno de nobreza, nossa própria dignidade, nosso próprio orgulho. Temos bons motivos para estarmos felizes conosco mesmos. Nós dizemos eu tinha esse hábito terrível, mas eu o deixei de lado, porque eu me esforcei, eu lutei por isso, para melhorar a mim mesmo e por causa disso, a minha família agora está melhor, a minha comunidade melhorou, a minha nação está melhor, o mundo está melhor. Então, é assim que nós vamos estar buscando a paz no século XXI. As pessoas vão começar a reavaliar os seus valores, vão se tornar cada vez mais consciente daquilo que realmente vale a pena ser buscado e vão começar a buscar aquilo que realmente vale a pena de forma sincera e a sinceridade do nosso esforço vai atrair para nós, grande assistência.
Estamos vivendo num momento de mudança, de transição na história humana. Podemos chamá-lo uma “Idade Axial” – um ponto de mutação. Já houve um tempo em que vivemos em uma idade assim, anteriormente. Foi o período entre 800 e 200 AC. Naquele período da história, a mente humana passou por uma transformação radical. Como é que aconteceu? Havia alguns grandes pensadores no mundo naquela época. Havia Confúcio e Lao-Tsé na China, Buda na Índia, Zoroastro na Pérsia, os Profetas de Israel na Mesopotâmia. Esses grandes pensadores reorientaram os valores humanos e, como resultados dessa reorientação surgiram quatro diferentes civilizações ao mesmo tempo, surgiram novas formas de vida. Tudo aquilo que está nos fundamentos da nossa civilização atual, foi dado naquele período da história.
Estamos vivendo um novo período de mutação da história, quando estamos começando a compreender a verdadeira base da identidade humana. A verdadeira base da identidade humana, não é a raça ou a cor, não é a nacionalidade, não é o gênero, é o Espírito Humano. E essas três capacidades, a capacidade de conhecer, a capacidade de amar, e a capacidade de ter vontade, são o grande tesouro humano. Qualquer povo, qualquer cultura, qualquer nação, qualquer família, que desenvolva essas três capacidades, de uma forma consciente e intencional, vai brilhar imensamente, nesse período da história. Pensem nas milhões de pessoas que estão sedentas, famintas por educação, famintas por conhecimento. Quem vai levar isso até elas? Vocês e eu! Porque nós percebemos, o que é realmente um valor.
Gostaria de receber os comentários e perguntas de vocês. Obrigado pela sua paciência!   

Respostas às Perguntas
1.     Quais são os Zoroastros e Budas do Século XXI e como essas mudanças irão acontecer?

       Eu acho que essa é realmente uma grande pergunta. Uma das maiores conquistas do Século XXI é a democratização da educação. Por aproximadamente vinte cinco séculos o conhecimento era extremamente centralizado. Não apenas o conhecimento era centralizado, mas também a capacidade de adquirir o conhecimento era restrita a muito poucas pessoas. Hoje é possível que o conhecimento se espalhe como fogo pelo mundo inteiro. Então, por exemplo, você sabe que a Universidade Harvard criou um programa, através do qual você pode fazer um curso em Harvard, estando em qualquer parte do mundo e o curso é gratuito. Por que eles fizeram isso? Eles disseram: nós somos a maior Universidade do mundo e para merecermos essa honra precisamos educar o mundo. Então você pode ir para o site de Harvard, você pode digitar, por exemplo, que você quer um curso em engenharia elétrica, e você pode fazer o curso. Mesmo que você viva em Zâmbia, pode fazer o curso. Esse é um desenvolvimento extraordinário. Instituições como essa (UNIT) - maravilhosas, bonitas, bem organizadas, precisa ter a capacidade de acolher os mais pobres entre os mais pobres do Brasil. Dessas crianças vão surgir novos pensadores, novos pensamentos, novos instrumentos para melhora do mundo.

2.  Professor, foi um prazer enorme ouvir sua fala. Eu fico feliz em ver que o programa de estudos para a Paz está acontecendo na UNIT. Eu acho isso uma coisa incrível, essa iniciativa no estado no Sergipe. Então, a minha pergunta é a seguinte: considerando o conceito de violência estrutural do John Lauto (?), considerando que o Brasil é um dos países onde esse conceito deveria ser estudado com mais carinho, considerando que esse é um dos países com um nível mais elevado de justiça social do planeta, como o senhor considera que simplesmente conhecimento - nesse país só considerado em termos tecnocráticos, pode ajudar na emancipação do nosso cidadão e a gente trazer paz e justiça social para o Brasil?
      Acho que a sua pergunta é realmente muito importante. É claro que existe o problema da violência interpessoal que está disseminada no mundo inteiro. Hoje, quando eu estava jantando, havia um noticiário do Brasil na televisão, e nesse vídeo, policiais estavam severamente espancando um ser humano, e eles estavam tão orgulhosos de si mesmos, estavam tão orgulhosos de sua própria capacidade de infringir tanto sofrimento ao ser humano. Esse tipo de violência também existe dentro dos lares. Muitas e muitas mulheres em todo o mundo e também meninas, são sujeitas a violência odiosa, em tal nível, que praticamente toda mulher conhece alguma mulher que foi vítima desse tipo de violência. Então, quem deveria falar contra isso? Eu proponho que sejam os homens e os meninos do mundo. Por que deveria as mulheres estar instruindo a nós, sobre como nós deveríamos nos comportar no contexto da família? Agora, mesmo homens de bom coração, são sujeitos a isso, porque é algo que permeia toda a sociedade. Se você é um menino e cresce dentro de um tipo de  sociedade desenvolve esses péssimos hábitos na forma de lidar com as meninas e as mulheres. A pornografia está piorando isso, porque está ligando a sexualidade humana com a degradação, violência, com a falta de humanidade, e os nossos meninos de 11, 12 e 14 anos estão adquirindo seu conhecimento dessa forma. Então, essas são formas privadas de violência, que também se expressam estruturalmente. Existe também o tipo de violência estrutural sobre o qual você falou, na qual, a depender de onde você nasceu - você poderá ter nascido na pobreza, então as suas chances são muito menores. Se você mora nesse outro lado da rua, as suas chances de se tornar um médico são mínimas. Eu tenho dois filhos, e eu vivia em um bairro pobre quando meus filhos eram pequenos. Na escola, eles estavam recebendo notas máximas, todo o tempo. Nós pensávamos que eles eram gênios. Nós nos mudamos para outro bairro, e eles disseram: “essas crianças são retardadas mentais”. Como isso é possível? Essa é a disparidade, a desigualdade que nós vemos no mundo. Você acha que é possível ter paz no mundo a não ser que a gente enfrente essas questões? Se acreditarmos nisso estaremos vivendo numa ilusão, estamos tendo alucinações, precisamos acordar. Então, a violência estrutural é um problema muito sério. De fato, a violência entre nações, diminuiu consideravelmente. É a violência dentro das comunidades, dentro de estados e dentro de famílias, que estão subindo aceleradamente.          
3.  ... Sobre o desafio do desenvolvimento humano, quando observamos o amor sem a presença do valor intrínseco.  Quando o nosso eu ama o outro eu, é magnífico. Todavia, eu pergunto ao senhor: como inferir no outro a reciprocidade desse amor, quando, muitas vezes, a realidade do outro nega essa aceitação?  
      Vou responder bem brevemente a sua questão. Se você quer fazer uma coisa muito difícil, tente ser um ser humano. É extremamente desafiador. É fácil ser um animal, mas muito difícil, ser um ser humano. Todas as pessoas com quem nós interagimos, nos apresentam uma questão. Posso manifestar humanidade na presença dessa pessoa? Então, existem alguns exercícios que nos ajudam a desenvolver a capacidade de tratar os outros com humanidade. Isso é dizer: “eu te amo”! Existe uma Citação que diz: “Possui um coração puro, bondoso e radiante...” Também existe uma Citação que diz: “A cortesia é o príncipe de todas as virtudes”. Essa é a forma que nós demonstramos amor até mesmo por aqueles não amáveis. Na medida em que a gente exercita essas simples capacidades, nós clamamos, nós conquistamos nossa humanidade, nos tornamos mais bonitos, mais atraentes. Não existe nada pior do que uma pessoa descortês. Então, toda a ideia, eu penso, é de ser o tipo de pessoa que os outros não precisam de desculpas para não nos amar. Eles são atraídos pela nossa beleza, pela nossa bondade, nossa cortesia, nossa compaixão. Eu acho que isso é tudo que nós podemos fazer.
4.    A minha pergunta é a seguinte: quando o senhor diz que nós podemos levar a paz às pessoas que estão ao nosso redor, que nós podemos realizar uma mudança, ajudar a transformar a família, o país, etc., surge uma dúvida. Como a gente falar de paz, ou levar a paz àquelas pessoas que estão vitimizadas pela violência? A violência do estado, a violência institucional, a violência nas suas próprias casas. Como falar de paz para essas pessoas? Será que é igual a falar para alguém que vive em uma condição mais favorável? Há diferença em falar de paz para quem está sofrendo grandes violências?     
                   Existem muitos desafios. Mas uma coisa extraordinária a respeito do Espírito Humano é a sua capacidade de se levantar a partir de qualquer condição. É muito reziliente. O espírito humano é muito poderoso, e isso é especialmente verdadeiro em relação às pessoas que foram vitimizadas. Frequentemente as pessoas que foram vitimizadas não enxergam suas próprias extraordinárias capacidades, porque estavam dentro, na profundidade de seu sofrimento. Mas, frequentemente são as pessoas mais extraordinárias em suas comunidades. Frequentemente essas pessoas se tornam a causa da ressurreição de suas comunidades. Você vê isso pelo mundo a fora. Eu já cliniquei como psicólogo, e não faço mais porque não tenho tempo. Mas, as pessoas mais extraordinárias que eu jamais encontrei, eram pessoas que tinham sido vitimizadas. Minha própria esposa foi casada com um homem na Bolívia, e ela teve que escapar para salvar sua própria vida e dos filhos, e com muita dificuldade, conseguiu fugir. Chegou no Estados Unidos, sem nada, com quatro dólares no bolso e duas crianças. E essa mulher é uma lâmpada brilhante, de fortaleza, de sabedoria, de confiança, mas não foi fácil para ela conseguir. Ela é a joia da minha família. Todo mundo olha para ela e diz: “eu gostaria de ser como Kety”. Kety é bonita! É óbvio! Então, o que podemos fazer se não estarmos em um estado de humildade e diante daqueles que sofreram grandemente?      
         5.   ... Nós falamos em desenvolvimento atrelado a competitividade. Quando o professor (o outro palestrante) apresentou sobre a China e a Coreia ele mostrou os índices educacionais altos e eu percebi uma relação entre isso e o desenvolvimento econômico. O professor Michael Penn acrescenta falando de valores extrínsecos e intrínsecos.  Então, amplia a questão. Esse desenvolvimento passa a ser não só econômico como também humano. A minha pergunta é: o nosso desafio neste século para construção do mundo em paz é relativizar ou questionar essa crença do desenvolvimento atrelado à competitividade e pensar nesse desenvolvimento como desenvolvimento humano? Até porque a realidade da China e da Coreia nos demonstra que esse desenvolvimento tem problemas em relação a sua sustentabilidade.     
                         Eu penso que essa deveria ser a última pergunta, vocês não acham? (coordenador: mais uma pergunta para encerrar, pode ser?) Acho que a sua questão é realmente muito profunda. O maior desafio para os seres humanos agora, é o desafio de encontrar uma correta relação com o mundo material e o mundo humano. Descobrir a correta relação com o mundo é absolutamente necessário para o nosso avanço no desenvolvimento. Quando nós alcançamos a industrialização, descobrimos que poderíamos ter praticamente qualquer coisa que desejássemos. Então, começamos a adquirir mais e mais, aqueles de nós que podíamos, e nós nos tornamos pateticamente ambiciosos. Então, a capacidade para o contentamento escapou das nossas mãos. Então agora, precisamos redescobrir essa capacidade. Como é que podemos ter acesso a tudo, e ao mesmo tempo escolher de forma sábia, escolher de uma forma nobre, não nos tornarmos como porco. Então, eu acredito que, o equilíbrio entre as dimensões material e espiritual da vida, é o grande desafio diante de nós, e eu tenho certeza que nós vamos conseguir. Somos grandiosos! Somos subestimados, mesmo por nós próprios. Quando eu penso no quanto que eu consegui modificar a mim mesmo... É incrível! Eu tenho longo caminho ainda pela frente, mas eu vejo que é possível. É possível para todo mundo. Essa é a direção na qual estamos nos movendo. Estamos avançando na evolução. Acredito que nós teremos um futuro muito bonito. 
                6.   O senhor disse que o amor é gerado pelo reconhecimento do valor do objeto amado e que entre as três características que a família humana deve ter para progredir é este amor. Como o ser humano pode progredir com este amor se ele desconsidera o seu semelhante por não achar valor algum nele? Nós há todo momento, vemos mendigos na rua e não achamos valor nenhum neles e a única atitude que temos é a exclusão... Eu não acredito nesse amor. O amor que eu acredito é aquele que está em Coríntios... Ele fala de um amor que é natureza, um amor que é o de Cristo.
                        Eu acho que você disse coisas muito importantes. Eu não consegui captar tudo que você disse, mas você teve vários insights significativos. A sociedade não pode se basear no meu próprio amor pelos outros. A sociedade tem que ser fundamentada na justiça, e as pessoas precisam ter acesso às suas necessidades para se desenvolver Entretanto, em adição a isso, aos arranjos institucionais, se queremos que os seres humanos se desenvolvam de forma apropriada, alguém precisa perceber o valor das pessoas. E perceber o valor das pessoas não é difícil. É uma questão de aprendizado.  Quando uma criança nasce no mundo, ela não sabe que o sol que está há quase 50 milhões de quilômetros de distância tem um grande valor. A criança vai precisar aprender a respeito da natureza da realidade. À medida que a criança aprende sobre a natureza da realidade, se torna óbvio para ela que o sol tem um grande valor. Da mesma forma com outros seres humanos. Em função de certa história e doutrinação, nós nem sempre vemos o valor do outro. É por isso que nós temos as escolas. As escolas estão nos educando na direção do conhecimento, então nós podemos ver coisas que não víamos antes, compreendemos coisas que não compreendíamos antes. A nossa estupidez, a nossa ignorância, é levada embora, e desenvolvemos a capacidade de perceber valor em lugares que não imaginávamos que existisse. Por exemplo, descobrimos que até mesmo as fezes tem um grande valor, que sem isso a vida na terra não é possível. Como é que aprendemos isso? Através do aprendizado. Então, eu não estou falando de uma questão sentimental, eu estou falando de conhecimento.
               
Mini Currículo
Michael Lee Penn é doutor em Psicologia e professor de Psicologia na Universidade Franklin e Marshall, nos Estados Unidos. Ministrou cursos e conferências em mais de 30 países. Sua área de pesquisa inclui a patogênesis da esperança e da desesperança, a psicopatologia do adolescente, a relação entre a cultura e a psicopatologia e a epidemiologia da violência contra a mulher. É autor de dezenas de livros e publicações científicas.
Obs:  Doutor Michael Lee Penn é professor do Curso de Especialização oferecido pela UNIT, em Estudos da Paz, do Desenvolvimento, e da Resolução de Conflitos, na Disciplina, O Eu, a Identidade e o Conflito.

Transcrição da Palestra Gravada em DVD: Maria de Fátima Fontes de Faria Fernandes (Coordenadora do Curso)

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